Por mais estranho que pareça, eu não vi nenhum salão de beleza feminino na Índia. É claro que eles existem, mas não são tão divulgados como os salões masculinos.
O indiano em geral, é muito vaidoso. Estão sempre vestidos com calças sociais, camisas de manga longa e cabelos arrumadinhos. Nos pés, sandálias ou chinelos. Dificilmente você verá um indiano usando bermudas ou uma camiseta regata.
O cuidado com a aparência pode ser visto não só em salões de beleza, mas na rua também. O que é até mais comum! Na beira da calçada, no meio daquele caos todo, eles cortam os cabelos, aparam as barbas, limpam os ouvidos, tomam banhos e fazem-de-tudo-quanto-é-coisa-um-pouco.
Cortar os cabelos em um salão indiano foi uma experiência bem diferente, inusitada e até engraçada.
O interior do salão é muito parecido com os nossos salões de cabeleireiro ou de barbeiros no Brasil. Creminhos e loções por todos os lados. Espelhinhos e acessórios típicos de quem vai usar a tesoura em alguém.
Uma pequena televisão passava danças de bollywood sem parar. Ao mesmo tempo, bem na minha frente, um radinho tocava músicas típicas. O volume dos dois aparelhos era bem alto.
O salão ficava em uma rua movimentada de Nova Delhi. Do lado de fora, a poucos centímetros eu diria, a movimentação de carros, tuk tuks e a buzinada toda era quase que insuportável.
O salão era praticamente um mundo dentro de outro planeta.
Assim que eu me sentei na cadeira e expliquei brevemente o que eu queria, uma fenda de outro mundo se abriu.
Eu disse que queria curto, sem tesoura.
Bem, o cabeleireiro primeiro fez uma massagem nas minhas mãos e braços. Durou pra lá de cinco minutos. Em seguida me ofereceu um chai. Eu agradeci, disse que não queria.
Ele então passou a massagear minha cabeça, pescoço e costas. Acendeu um cigarro e saiu para fumar. Pensei, quando é que ele vai começar a cortar o meu cabelo?
Ele voltou, encheu o meu rosto de creme, pegou uma maquininha estranha, adaptou em sua mão e toma massagem de novo! Pelos meus cálculos foram mais uns 15 minutos. Calculei pelo número de danças que passou na televisão. Foram umas 5 ou 6. Posso ter me enganado, pois são todas muito parecidas.
Me deixou alí de molho por mais uns cinco minutos e saiu para fumar. Quando voltou ele me perguntou novamente: Chai? Eu resolvi aceitar e relaxar. Tomei tranquilamente enquanto ele acendeu mais um cigarrinho.
Aquilo com certeza iria longe!
Esguichou uma solução no meu cabelo, fez mais uma massagenzinha para espalhar o liquido mágico e pegou sua tesourinha.
Antes de iniciar o corte, procurou um outro canal na televisão. Entre todas as opções, só encontrava novelas e danças indianas. Voltou para o canal onde estava.
Mais uns 10 minutos e o meus cabelos já estavam no mais puro “indian style”. Penteou os meus cabelos com as mãos. Me deu uns tapas nas costas e soltou um breve “ok”!
Paguei 300 rúpias. O equivalente a uns 15 reais.
Saí de lá me sentindo novo, me fez bem. Até veio uma lembrança de menino, quando ganhava um kichute e saia correndo pelas ruas com o novo pisante. Aquela sensação de que todo mundo está olhando para você. Acho que até estavam mesmo!
Por Marcos Galinari – fotógrafo, videomaker e documentarista // www.instagram.com/marcosgalinari
Assista ao video abaixo e saiba um pouco mais como foi este corte de cabelo: